RPG: Nobilis
Editora: Hogshead Publishing
Autora: R. Sean Borgstrom
Sistema Básico: Nobilis (sistema sem dados)
Ano: 1999
Gênero: sobrenatural, deuses, poderes.
Eu iria começar o texto com um micro conto, algo que gosto de fazer, e até imaginei o desenrolar de um para exemplificar algum pedaço do jogo ou iniciar uma curiosidade sobre esse rpg, mas aí esbarrei em uma dúvida comum aos jogadores de primeira viagem em Nobilis: “se escreverei um micro conto sobre um Poder, qual será o Estado, a Posse, a Herança, desse cara?”. Escolher qual a palavra que esse personagem encarnaria definiria como o texto fluiria e, como o leitor iria interpretar essa resenha, por isso passarei direto para a estrutura do jogo. Não quero ser metafórico demais, pois o jogo em si já é totalmente etérico, confuso e metafórico, então gostaria ser mais didático
Primeiro repetirei que é um jogo bastante etéreo, metafórico e confuso. Há coisas definidas? Há, mas as ideias além da caixa e o próprio absurdo são muito mais efetivos e comuns durante uma partida.
O cenário de Nobilis é mais ou menos assim:

Dentro dessa Criação estão dois mundos, o mundo Prosaico e o mundo Mítico. O Prosaico é a realidade conhecida pela maior parte das pessoas, com carros, semáforos, contas a pagar, paredes de concreto armado e calendários. O Mítico é o mundo além do normal, onde deuses andam com centauros, anjos jogam com serpentes e onde vivem os Imperadores.
Os Imperadores são seres de Poderes imensos, que são o sustentáculo de toda a Criação. Eles são anjos, demônios, serpentes, entidades da ordem e do caos, do bem e do mal, do feio e do belo e deuses obscuros que possuem os conceitos da existência, os poderes. Esses poderes que falei são representados por palavras. Podemos ter basicamente todas as palavras que existem e todos os conceitos que alguém poderia imaginar, literalmente: queijo, força, estrela, raio, luz, morcego, pensamento, medo, vermelho, número, arma, papel, ziper, concentração, trabalho, voz, som, enrolado, etc. Qualquer coisa mesmo. E o Imperador empresta suas Heranças (os poderes, algo assim) aos Nobres.
Um Nobre possui um conhecimento “limitado” de um dos Poderes do seu Imperador. Esse Nobre é o personagem jogador. E ele é formado por quatro Atributos, vários pontos de milagres, alguns Dons (que são poderes predefinidos), laços com coisas, âncoras com humanos e animais e criaturas, Desvantagens e Vantagens. Os quatro atributos vão dos valores zero a nove e eles são:
Aspecto - que engloba tudo físico e mental do Nobre. O quão ágil, forte, inteligente e valente ele é. Ter o Aspecto em zero significa ser tão forte quanto o mais forte dos humanos, tão inteligente quando o humano mais inteligente e tão ágil quanto o humano mais ágil. Cada ponto acima disso adiciona capacidades miraculosas ao personagem. Pular entre os continentes, levantar uma montanha, esconder um elefante sob a capa, beber um oceano, andar na corda bamba enquanto faz malabares com motosserras ligadas e de olhos fechados, isso e muito mais cai em Aspecto.
Domínio - é o quanto o Nobre tem controle sobre o Poder que lhe foi concedido. Desde de apenas fazer alguns truques com o Poder até Inundar o universo com todo seu conceito. Um Nobre da Música pode gerar silêncio num recital, fazer uma flauta causar sentimentos profundos que comoveriam nações, ou fazer o mundo inteiro ouvir apenas uma única nota por vários dias.
Reino - Reino é o controle do Nobre sobre um dos mundos na grande árvore da vida. Lá nesse reino sua vontade torna-se realidade e esse atributo define o quão fácil ou grandioso podem ser as mudanças desejadas. Apenas pessoas que tragam presentes são bem vindos? Quando alguém ofende o Nobre em sua casa ele merece um castigo? O Nobre quer voar enquanto em seu reino? Esse é o Atributo.
Espírito - aqui temos o atributo que é a “defesa” contra os milagres de outros Nobres.
Nos Nobres vivem em um constante baile de máscaras (metaforicamente falando) onde digladiam-se uns contra os outros por hegemonia ou apenas para mostrar que são melhores, mais garbosos, ou o que lhes valha. Eles defendem os apontamentos de seu Imperador, a não ser que desejam traí-lo e principalmente, lutam contra os piores seres que já se ouviu falar, os Excrucianos.

Sim, Nobilis é um jogo repleto de metáforas, ideias, flores e Poderes absurdos, mas é um jogo elegante acima de tudo. Possuo a segunda versão dele, lançada pela Hogshead Publishing, através da Guardians of Order. É um livrão quadrado de capa dura, e muito bem escrito por uma mulher. Rebecca Borgstrom escreveu esse livro, depois mudou de nome, e mudou de nome de novo, escreveu Weapons of the Gods, ajudou no Exalted também, hoje chama-se Jenna K. Moran.
Não é um jogo para qualquer grupo, principalmente para grupos que se preocupam demais com regras fixas e obrigatoriedades de números. Nobilis é para aqueles que gostam de colaborar com a criação de um universo e gostam de ideias diferentes.
Nobilis é um rpg onde o jogador interpreta um Poder.