terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Nobilis - RPG


 RPG: Nobilis
Editora: Hogshead Publishing
Autora: R. Sean Borgstrom
Sistema Básico: Nobilis (sistema sem dados)
Ano: 1999
Gênero: sobrenatural, deuses, poderes.


Eu iria começar o texto com um micro conto, algo que gosto de fazer, e até imaginei o desenrolar de um para exemplificar algum pedaço do jogo ou iniciar uma curiosidade sobre esse rpg, mas aí esbarrei em uma dúvida comum aos jogadores de primeira viagem em Nobilis: “se escreverei um micro conto sobre um Poder, qual será o Estado, a Posse, a Herança, desse cara?”. Escolher qual a palavra que esse personagem encarnaria definiria como o texto fluiria e, como o leitor iria interpretar essa resenha, por isso passarei direto para a estrutura do jogo. Não quero ser metafórico demais, pois o jogo em si já é totalmente etérico, confuso e metafórico, então gostaria ser mais didático

Primeiro repetirei que é um jogo bastante etéreo, metafórico e confuso. Há coisas definidas? Há, mas as ideias além da caixa e o próprio absurdo são muito mais efetivos e comuns durante uma partida.

O cenário de Nobilis é mais ou menos assim:
A Criação existe e ela é uma grande árvore cujas raízes tocam o inferno, onde a copa chega ao paraíso, nos galhos estão milhares e milhares de reinos e em seu tronco vivem grandes serpentes.

Dentro dessa Criação estão dois mundos, o mundo Prosaico e o mundo Mítico. O Prosaico é a realidade conhecida pela maior parte das pessoas, com carros, semáforos, contas a pagar, paredes de concreto armado e calendários. O Mítico é o mundo além do normal, onde deuses andam com centauros, anjos jogam com serpentes e onde vivem os Imperadores.

Os Imperadores são seres de Poderes imensos, que são o sustentáculo de toda a Criação. Eles são anjos, demônios, serpentes, entidades da ordem e do caos, do bem e do mal, do feio e do belo e deuses obscuros que possuem os conceitos da existência, os poderes. Esses poderes que falei são representados por palavras. Podemos ter basicamente todas as palavras que existem e todos os conceitos que alguém poderia imaginar, literalmente: queijo, força, estrela, raio, luz, morcego, pensamento, medo, vermelho, número, arma, papel, ziper, concentração, trabalho, voz, som, enrolado, etc. Qualquer coisa mesmo. E o Imperador empresta suas Heranças (os poderes, algo assim) aos Nobres.

Um Nobre possui um conhecimento “limitado” de um dos Poderes do seu Imperador. Esse Nobre é o personagem jogador. E ele é formado por quatro Atributos, vários pontos de milagres, alguns Dons (que são poderes predefinidos), laços com coisas, âncoras com humanos e animais e criaturas, Desvantagens e Vantagens. Os quatro atributos vão dos valores zero a nove e eles são:

Aspecto - que engloba tudo físico e mental do Nobre. O quão ágil, forte, inteligente e valente ele é. Ter o Aspecto em zero significa ser tão forte quanto o mais forte dos humanos, tão inteligente quando o humano mais inteligente e tão ágil quanto o humano mais ágil. Cada ponto acima disso adiciona capacidades miraculosas ao personagem. Pular entre os continentes, levantar uma montanha, esconder um elefante sob a capa, beber um oceano, andar na corda bamba enquanto faz malabares com motosserras ligadas e de olhos fechados, isso e muito mais cai em Aspecto.

Domínio - é o quanto o Nobre tem controle sobre o Poder que lhe foi concedido. Desde de apenas fazer alguns truques com o Poder até Inundar o universo com todo seu conceito. Um Nobre da Música pode gerar silêncio num recital, fazer uma flauta causar sentimentos profundos que comoveriam nações, ou fazer o mundo inteiro ouvir apenas uma única nota por vários dias.

Reino - Reino é o controle do Nobre sobre um dos mundos na grande árvore da vida. Lá nesse reino sua vontade torna-se realidade e esse atributo define o quão fácil ou grandioso podem ser as mudanças desejadas. Apenas pessoas que tragam presentes são bem vindos? Quando alguém ofende o Nobre em sua casa ele merece um castigo? O Nobre quer voar enquanto em seu reino? Esse é o Atributo.

Espírito - aqui temos o atributo que é a “defesa” contra os milagres de outros Nobres.

Nos Nobres vivem em um constante baile de máscaras (metaforicamente falando) onde digladiam-se uns contra os outros por hegemonia ou apenas para mostrar que são melhores, mais garbosos, ou o que lhes valha. Eles defendem os apontamentos de seu Imperador, a não ser que desejam traí-lo e principalmente, lutam contra os piores seres que já se ouviu falar, os Excrucianos.
Os Excrucianos são tão ou mais poderosos do que os Imperadores e eles vieram de além da Criação para desfazer tudo. Não há como falar de maneira diferente, os Excrucianos querem destruir tudo mesmo. Eles querem acabar com todos os conceitos e estão na Valde Bellum, a guerra contra a realidade. Várias batalhas já foram vencidas pelos Excrucianos, mas ainda há muito pelo que se lutar. Se um Excruciano oblitera um conceito, esse conceito deixa de existir, é como se jamais tivesse existido. Um exemplo: Se por alguma razão o Nobre dos Cavalos for destruído e o Imperador dele não conseguir passar o conceito Cavalo para outra pessoa, se o Excruciano Destruir Definitivamente o conceito Cavalo, é como se simplesmente esses animais JAMAIS tivessem existido, nem sequer a menor ideia, rascunho, contexto ou razão deles estarem no mundo, nem na imaginação de ninguém, nem em obras de ficção, em lugar algum, eles não existiriam de modo algum, até algo como cavalgar não existiria, passaria a ser “elefantizar” ou “avestruzar”.

Sim, Nobilis é um jogo repleto de metáforas, ideias, flores e Poderes absurdos, mas é um jogo elegante acima de tudo. Possuo a segunda versão dele, lançada pela Hogshead Publishing, através da Guardians of Order. É um livrão quadrado de capa dura, e muito bem escrito por uma mulher. Rebecca Borgstrom escreveu esse livro, depois mudou de nome, e mudou de nome de novo, escreveu Weapons of the Gods, ajudou no Exalted também, hoje chama-se Jenna K. Moran.

Não é um jogo para qualquer grupo, principalmente para grupos que se preocupam demais com regras fixas e obrigatoriedades de números. Nobilis é para aqueles que gostam de colaborar com a criação de um universo e gostam de ideias diferentes.

Nobilis é um rpg onde o jogador interpreta um Poder.